De entre todos os filhos
ilustres de Santa Cruz (Praia da Vitória), Vitorino Nemésio ocupa um
ímpar e cimeiro lugar.
Esta terra, berço e matriz significante das suas primeiras vivências
humanas, constituirá assim e depois em toda a criação
nemesiana um referencial decisivo e permanente de inteligência do real,
de memória comunitária e de imaginário pessoal, na medida mesma em que
consagrou e projectou exemplarmente nas múltiplas variedades e variantes
estilísticas e nos núcleos estruturantes de significação da sua
produção literária, ensaística e académica.
A Praia da Vitória, constituindo forte presença vivida e nomeada nos
escritos autobiográficos e memorialísticos de Vitorino Nemésio,
aparecerá depois sempre na sua produção poética, ficcionista, contista
e sob a forma sugestiva e eficiente de um pequeno mundo real dotado
de grandes virtualidades expressivas e analogantes da própria existência
e condição humanas, fornecendo-lhe então tanto motivos locais de
reminiscência pessoal e histórica quanto sinais e símbolos de maior
alcance intelectual e especulativo, de natureza mais universal e de mais
crítica e compreensiva problemática espiritual.
Era aquela Praia nemesiana a Praia da Música da Praia, do adro da
Matriz, das Ermidas apedrejadas, das cerimónias religiosas e das
procissões da Caída, do Santo Cristo das Misericórdias ali em frente à
Casa das Tias (que lhe foi «recesso de vida», e varanda
para mundos mais largos de intimidade e de experiências, «quase um
palácio», de memória de facto, digo, como em S. Agostinho que
ele seguiu...), da Ribeira do Mar, do Monturo, dos ilhéus vizinhos para
lá da Má-Merenda, enfim, de toda a vida fantástica de O
Mistério do Paço do Milhafre e que ele nos transmitiu tão genialmente
pelos seus
vários heterónios narrativos e nas suas paradigmáticas pautas de
Poeta e Homem, como ali ainda junto à ermidinha da Irmandade de S.
Pedro Gonçalves dos Homens do Mar da Praia da Vitória.
Casa onde nasceu
Nemésio A Obra de Vitorino Nemésio continua hoje a ser ainda (cada vez mais...)
um desafio e um convite à meditação, ao amor à terra, à Cultura, à
Educação e à Ciência, e bem assim afinal à dignificação dos
patrimónios humanos, históricos e espirituais de Portugal, do Povo das
Ilhas dos Açores em geral e da Ilha Terceira e de Santa Cruz (Praia da
Vitória) em particular.
Casa das Tias
Dr. Eduardo Ferraz da
Rosa